A fuga do ventre do manicômio foi um pesadelo em câmera lenta. Cada passo no corredor escuro, cada sombra que se mexia, parecia um guarda prestes a surgir. As provas — o diário florido, as fotografias desbotadas, as cartas desesperadas — estavam enroladas em um pano e presas contra os corpos, como partes de si mesmos que não podiam perder.
A velha porta de serviço cedeu com um rangido que lhes pareceu um gemido. A noite lá fora era fria, úmida, e o ar, livre do cheiro de cloro e desespero, era uma bênção agridoce. Seguiram margeando o muro alto de pedra, seus corações martelando contra as costelas.
Foi Ana quem viu primeiro: um amontoado de terra escura e pedras deslocadas na base do muro, meio escondido por samambaias e capim. Um buraco. Não era grande, mas era evidente que havia sido escavado com ferramentas improvisadas e uma paciência desesperada. A terra ao redor estava compactada pelo tempo. Alguém, em algum momento, havia cavado sua própria salvação. Ou tentado.
"É uma saída," sussurrou Madame Satã, sem hesitar. "Entrem, rápido!"
Um a um, eles se arrastaram pelo buraco apertado e pedregoso. A terra fria impregnou suas roupas, pedras afiadas arranharam braços e costas. Primeiro Alice, ágil como uma doninha. Depois Laura, com sua fúria transformada em determinação silenciosa. Paulo, Lucas, Ana. Cada um que emergia do outro lado sentia a mesma coisa: o ar livre, vasto e escuro, de um campo aberto. À frente, a massa negra e impenetrável de uma floresta se erguia contra o céu estrelado. Atrás, a silhueta monstruosa do hospital.
Madame Satã passou. Por último, Carlos. Ele se ajeitou no buraco, empurrou a pasta com as cópias à frente, e começou a se arrastar. Foi quando seu pé, buscando apoio, chutou uma pedra solta. A pedra rolou, atingiu com um TIN metálico e seco alguma coisa enterrada na saída do túnel — um pedaço de lataria velha, um cano, algo.
O som foi minúsculo. Mas foi o suficiente.
De dentro do hospital, vindo de uma das alas mais próximas, uma sirene histérica disparou, rompendo a paz da noite como um grito. UÓÓÓÓÓÓÓÓ UÓ UÓ UÓ! Luzes de lanternas acenderam-se no alto dos muros e nas janelas, varrendo o campo desordenadamente.
Carlos, ainda com as pernas para fora do buraco, congelou por um milésimo de segundo. "SAI!" gritou Madame Satã do lado de fora, puxando-o com força brutal pelo braço.
Ele saiu arrancado, rolando na grama úmida. A lanterna de um holofote passou por cima do buraco, iluminando a terra revolta.
"Corram! Para a floresta!" ordenou Alice, sua voz sumindo no rugido da sirene.
Não houve tempo para pensar, para planejar. Fuga pura, instintiva. Eles se levantaram e correram, tropeçando no mato alto e irregular, em direção à massa negra das árvores. As luzes dos holofotes dançavam atrás deles, tentando caçá-los como insetos no campo. De dentro do hospital, agora, ouviam-se vozes gritando, o som de portas batendo, de corridas em corredores.
A liberdade dos loucos durara menos de um minuto. Agora, eram presas novamente, mas em campo aberto, com o inferno acordado atrás deles e a escuridão incerta da floresta à frente. A única vantagem era a noite, a distância e a fúria ancestral que agora carregavam não só nos bolsos, mas em cada fibra de seus corpos em fuga. O Arquivo das Sombras estava vivo, e seus guardiões estavam sendo caçados.
A floresta não era um refúgio. Era uma entidade viva, hostil e voraz na escuridão. Galhos baixos e retorcidos agarravam suas roupas como dedos ossudos. Espinheiros rasgavam a pele exposta. O chão, oculto por uma camada de folhas podres e musgo escorregadio, era uma armadilha de raízes serpenteadas e buracos súbitos. O ar fresco do campo deu lugar a um cheiro pesado de terra úmida, decomposição e algo mais — um silêncio antigo e opressivo, quebrado apenas pelo som de sua própria fuga desesperada e pelo eco distante, mas persistente, do alarme.
Correram. Não havia caminho, apenas a direção oposta às luzes cegantes e aos gritos que agora ecoavam da borda do campo. A linha reta era uma ilusão; a floresta os fazia ziguezaguear, tropeçar, cair. Paulo torceu o tornozelo ao pisar em falso, mas Laura o puxou para cima sem diminuir o passo, seu rosto uma máscara de dor e determinação.
Carlos, com a pasta de documentos agora uma âncora pesada e sagrada sob o braço, ofegava, cada arranhão uma oração silenciosa. Suas palavras, sussurradas entre um fôlego e outro, eram um fio de esperança no pântano do desespero:
"Seu Zé... Seu Zé Pilintra... nos proteja na nossa fuga... nos faça invisíveis aos olhos do mal... abra um caminho onde não há... nos cubra com a sombra do seu chapéu..."
Madame Satã, apesar da idade e da vida dura, liderava com uma resistência sobrenatural, sua visão parecendo penetrar a escuridão. Alice, ao seu lado, moveu-se com a agilidade de quem conhece todos os becos, mesmo que nunca tivesse pisado naquela mata.
De repente, as vozes e as luzes pareceram diminuir, abafadas pela densa muralha de vegetação. O alarme ficou distante, um zumbido irritante. Eles pararam por um momento, encostados em troncos grossos, ofegantes, o ar ardendo nos pulmões.
Foi então que notaram. A escuridão, que era absoluta, pareceu se mexer. Não eram guardas. Eram sombras que se descolavam das árvores, se arrastando pelo chão de folhas sem fazer ruído. Um cheiro familiar e impossível invadiu o ar úmido da floresta: cachaça barata e tabaco doce.
"Zé..." sussurrou Alice, com um respeito que beirava o temor.
As sombras não se aproximaram. Formaram uma espécie de corredor irregular entre as árvores, uma trilha ligeiramente menos escura, que parecia convidá-los a seguir. E, por um instante, Carlos jurou ter visto, no canto da visão, o brilho fugaz de um sapato branco e a brasa laranja de um charuto, pairando no ar antes de desaparecer.
Não era uma alucinação coletiva. Era o patrocínio.
"É por ali," disse Madame Satã, sem hesitar, sua voz firme. "Sigam as sombras. Andem rápido, mas em silêncio."
Eles seguiram. O caminho, guiado pelas sombras malandras de Zé Pilintra, era estranhamente mais fácil. As raízes pareciam se aplainar, os espinheiros se afastavam, como se a floresta estivesse, relutantemente, abrindo passagem para aqueles que carregavam um tipo diferente de fogo. Por trás, o som das buscas parecia se perder, desorientado, como se os perseguidores de repente não conseguissem mais distinguir norte de sul na escuridão.
Carlos parou de rezar e começou a agradecer, em silêncio. A proteção não era um escudo mágico, mas uma brecha na lógica do perigo. Um desvio astuto no mapa da perseguição.
Após o que pareceu uma eternidade, mas provavelmente foram menos de trinta minutos, as árvores começaram a rarear. À frente, através dos troncos, viram as luzes fracas e amarelas de uma estrada de terra. E, estacionado à beira dela, quase invisível na penumbra, estava o caminhão de mudanças azul e vermelho de Seu Nelsinho, com os faróis apagados e o motor desligado.
O gigante estava encostado na lateral, fumando um cigarro de palha. Ao vê-los emergir da floresta, seus olhos pequenos não mostraram surpresa, apenas um alívio profundo. Ele jogou o cigarro no chão e o esmagou.
"Subam," ele ordenou, baixo. "O baú tá pronto. A cidade é pequena, o alarme vai ter acordado meio mundo. Temos que sumir antes que fechem as estradas."
Sem uma palavra, exaustos, machucados, mas vivos e com o tesouro maldito intacto, eles subiram no caminhão. Nelsinho ligou o motor, um ronco suave e confiável, e engatou a marcha lentamente, sem luzes, até estar longe o suficiente do hospital para acender os faróis baixos e fundir-se com a escuridão da estrada mineira.
Dentro do baú, entre os colchões, o grupo respirou fundo, coletivamente. Tinham escapado. Tinham o arquivo completo. E tinham, mais do que nunca, a certeza de que não estavam sozinhos. A luta continuava, mas agora tinham um malandro celestial abrindo seus caminhos, e a fúria de uma mãe roubada para guiar suas mãos. O próximo passo: usar o que encontraram para fazer o mundo inteiro enxergar a podridão dos Sabará.
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